Inicia-se então uma vida do eu numa região puramente espiritual. Devemos considerar o "espírito" não como um simples conceito ou como uma faculdade humana ("um homem de muito espírito") mas como uma substancialidade sui generis. Assim, uma obra de arte, por exemplo, tem um conteúdo espiritual real, independentemente da sua aparência física sob forma de quadro, escultura ou peça de música. Até mesmo cada pensamento humano é uma realidade espiritual que permanece, e não apenas um ato íntimo sem consequência e sem realidade intrínseca.
Se dissemos que o eu entra a essa altura numa região puramente espiritual, não aludimos a nenhum "lugar" no cosmo, a nenhum "céu". Estamos longe do espaço e do tempo. Contudo o eu vive num ambiente repleto de outros seres espirituais: hierarquias superiores, outros eus de homens "mortos" ou vivos; tudo que tiver realidade na Terra aparece nessa "região" sob forma arquétipa. Os "modelos" ou "ideias" das formas terrestres, os impulsos espirituais que se manifestam na Terra, por exemplo sob forma de guerras, invenções, criações artísticas ou simplesmente pensamentos, constituem o ambiente dessa região espiritual que não pode ser adequadamente descrita por meio de palavras humanas.
O eu convive com essas formas e esses entes, aprendendo, permeando e sendo permeado, irradiando e recebendo, num intercâmbio íntimo e permanente com o seu ambiente. Sua consciência é inteiramente diferente daquela da Terra. Quanto mais evoluído moralmente na Terra, mais intensa será a consciência nessa região espiritual.Ali o eu vive a sua vida passada; julga a si próprio ante o fundo da realidade espiritual. Sente-se como que fazendo parte desse maravilhoso universo, mas sente também que só numa vida terrena lhe é dado progredir a aperfeiçoar-se moralmente. A estada post-mortem nos mundos espirituais é apenas uma fase de "avaliação", de meditação cósmica e de preparo de uma existência futura.Com efeito, o eu sente, após um certo tempo, uma vontade irresistível de voltar à Terra: para reparar, por meio de atos, os efeitos prejudiciais da vida passada, para aprender mais, para evoluir ética e mentalmente, para voltar a encontrar os seres humanos e situações que enfrentou no passado, estabelecendo novas relações e resolvendo problemas que ficaram sem solução. Qualquer situação não resolvida chama por uma solução, e só por um ato terreno pode o eu procurar restabelecer a harmonia violada.
Nesse ínterim, a Terra e os seres humanos na Terra, por seu lado, evoluíram Do alto da sua existência espiritual o eu acompanha essa evolução, participando dela e influenciando-a dentro de certos limites.
(Rudolf Lanz)
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