30 de outubro de 2010


"Suplico-te, gentil mortal, canta de novo!
Meu ouvido enamorou-se de tua voz; também meu olho encantou-se com tua forma;
e a força das tuas belas virtudes me leva, à primeira vista, dizer, jurar, que te amo."


(Sonho de uma noite de Verão - Shakespeare)

26 de outubro de 2010

Tus dedos



...Y recorriste la calle de mis suaves piernas
Con tus manos ardientes y besos de tu boca tierna.
Detuviste tu lengua en mi jardín del placer,
Acariciaste sus hierbas y las mojaste de espuma al amanecer.
Con tus dedos titubeantes te atrevías más
Y, bajo la oscuridad de la recámara, ellos exploraban
El camino caliente donde, perdidos, se demoraban...
Era una búsqueda ansiosa por hallar el tesoro de mi cuerpo,
Que Dios me dio cuando yo nací
Y lo conservé intacto para entregártelo a ti...
Mis jóvenes caderas bailaban frenéticas, tan contentas,
Con la música de tus dedos entre mis piernas.
Tirar de mi pecho un suspiro de gozo intentabas
Antes de, con tu impetuosa daga, traspasarme...
Mi carne se ha estremecido, mis manos se han crispado,
El dolor me ha invadido cuando, cariñoso,
recogiste la rosa de mi castidad...
Después, amoroso, me cubriste con pétalos de flores
Como si fueran iridiscentes mariposas de isósceles alas,
tan puras como estrellas distantes...
Me miraste a mí con tus ojos, brillantes como dos diamantes,
Porque, a partir de aquel instante, nosotros seríamos
Lo que hoy somos, dos irreverentes amantes...

(Maria Hilda de J. Alão)

24 de outubro de 2010

:)


Quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.


(Cecília Meireles)

21 de outubro de 2010

Se tu viesses ver-me...


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

(Florbela Espanca)

18 de outubro de 2010

Uma cama pra nós dois




Me deu vontade de arrumar a cama pra nós dois
Pensei num lençol escuro, para combinar com teus olhos
Ou, talvez, branco, pra revelar teus contornos sutis
Delicados
Pelos e peles
Tons escurecidos numas partes
Clareados em outras
Fundo próprio para a imagem que mostra detalhes
Da maravilha humana
Deixarei ao nosso lado um copo d'água e uma rosa vermelha
Não quero mais nada por perto
Nada
Nenhum móvel
Nenhum adorno
Nada que concorra com a tua majestade nua
Só sombras
Travesseiros macios
Gemidos e arrepios
Palavras imorais
Gestos depravados
Vergonhas desfeitas
Fantasias satisfeitas
De fazer amor de qualquer jeito
Tomar um gole d'água
Oferecer-te a flor
Beijar teu sexo
E dormir...

15 de outubro de 2010

Aqui te amo...



...Nos sombrios pinheiros desenreda-se o vento
A lua fosforesce sobre as águas errantes
Andam dias iguais a perseguir-me.

Desperta-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata desprende-se do ocaso.
Às vezes uma vela. Altas, altas estrelas.

Ou a cruz negra de um barco.
Sozinho.
Às vezes amanheço e minha alma está úmida.
Soa, ressoa o mar ao longe.
Este é um porto.
Aqui te amo.

Aqui te amo e em vão te oculta o horizonte
Eu continuo a amar-te entre estas frias coisas
Às vezes vão meus beijos nesses navios graves
Que correm pelo mar rumo a onde não chegam

Já me vejo esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde
A minha vida cansa-se inutilmente faminta.
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.

O meu tédio forceja com os lentos crepúsculos.
Mas a noite aparece e começa a cantar-me
A lua faz girar a sua rodagem de sonho.

Olha-me com os teus olhos as estrelas maiores.
E como eu te amo, os pinheiros no vento
querem cantar o teu nome com as folhas de arame.

(Pablo Neruda - Poema nº XVIII)

14 de outubro de 2010

Cinzento


Poeiras de crepúsculos cinzentos,
Lindas rendas velhinhas, em pedaços,
Prendem-se aos meus cabelos, aos meus braços
Como brancos fantasmas, sonolentos...

Monges soturnos deslizando lentos,
Devagarinho, em mist'riosos passos...
Perde-se a luz em lânguidos cansaços...
Ergue-se a minha cruz dos desalentos!

Poeiras de crepúsculos tristonhos,
Lembram-me o fumo leve dos meus sonhos,
A névoa das saudades que deixaste!

Hora em que o teu olhar me deslumbrou...
Hora em que a tua boca me beijou...
Hora em que fumo e névoa te tornaste...
(Florbela Espanca)

13 de outubro de 2010

Visões da Febre


Doente. Sinto-me com febre e com delírio
Enche-se o quarto de fantasmas
Uma visão desenha-se ante mim
Debruça-se de leve…

É uma mulher de sonho e suavidade
E disse-me baixinho:
“Eu me chamo Saudade,
E venho para levar-te o coração doente!

Não sofrerás mais; serás fria como o gelo;
Neste mundo de infâmia o que é que importa sê-lo
Nunca tu chorarás por tudo mais que vejas!”

E abriu-me o meu seio; tirou-me o coração
Despedaçado já sem uma palpitação,
Beijou-me e disse “Adeus!” E eu: “Bendita sejas!…”

(Florbela Espanca)

10 de outubro de 2010

Eu gosto...




Eu gosto do claro, quando é claro que você me ama
Eu gosto do escuro, no escuro com você na cama
Eu gosto do não, se você diz não viver sem mim
Eu gosto de tudo, tudo o que traz você aqui
Eu gosto do nada, nada que te leve para longe
Eu amo a demora sempre que o nosso beijo é longo
Adoro a pressa quando sinto
Sua pressa em vir me amar
Venero a saudade quando ela está pra terminar
Gosto de fazer amor fora de hora
Lugares proibidos com você na estrada
Adoro surpresas sem datas
Eu gosto da falta quando falta mais juízo em nós
E de telefone, se do outro lado é a sua voz

5 de outubro de 2010

Personagem


São os espelhos que me revelam:

Sem eles eu talvez não soubesse de mim.


Personagem incerto:
alguma dimensão, para demarcar-me.


Densidade suficiente para as quedas.
Às vezes, uma perplexa luz.


De nome não se fala, por desnecessário.
De origem não se sabe o que dizer.


Esta unidade insuficiente,
que não consegue ser sozinha.


Sim, conseguiria, se tudo não fossem agressões,
de dentro e de fora.


Que obediência, que disciplina é preciso aceitar?
Que genealogias se impõem?
Flutua-se num rio caudaloso e baço:
toas as gerações já passaram – e que souberam de proveitoso?
De onde provinham? Como se encadearam seus rostos?
Viveram suas obrigações. Que deixaram?
Tudo se perde na origem anônima,
Nessa negra fonte cega.


Que posso eu ter com essas vidas passadas,
se elas nada afinal têm com a minha?
Que somos todos um sangue?
Ah! cada um vive o seu sangue separadamente!



(Cecília Meireles)

3 de outubro de 2010

A Portrait of the Artist as a Young Woman




"Eu vou dizer-te o que farei e o que não farei. Não irei servir mais aqueles nos quais eu já não acredito, quer seja a minha casa, a minha pátria ou a minha igreja: e vou tentar exprimir-me nalguns modos de vida ou de arte tão livremente quanto possa e durante o tempo que puder, utilizando para minha defesa as únicas armas que me permito usar: - Silêncio, Exílio e Astúcia."

(James Joyce)




1 de outubro de 2010

A Roda da Fortuna


A Roda da Fortuna é a carta que trata da sorte, da mudança, da fortuna que é, quase sempre, boa. Esta é uma virada do acontecimentos para melhor, que traz invariavelmente grande alegra e abundância. O Arcano X vem nos falar das mudanças naturais, leves e necessárias em nossa jornada. Na estrutura do Tarô é a primeira carta que alerta para tais mudanças, instabilidades, alterações, mas com um dedo do Providência Cósmica.

Embora a maioria das cartas indiquem o que a pessoa pode fazer para melhorar a sua vida, na Roda da Fortuna pode-se simplesmente admitir que, às vezes, esta pessoa tem sorte, independentemente de todo o resto. Esta carta pode também significar movimento, evolução, mas o seu principal sentido é o de que haverão mudanças para melhor aparentemente fortuitas, imprevisíveis. O consulente conseguirá “a tal” oportunidade pela qual esperava. Chamemos-lhe destino, recompensa kármica por tudo de bom que já fizemos na vida, ou simplesmente sorte. Mas quaisquer que sejam as “loterias” da vida da pessoa, ela acabou de acertar!

(Texto retirado da net)


"A Sorte tudo afeta: lança o teu anzol, porque no riacho mais improvável haverá peixe."

Ovídeo (poeta romano, 43 a.C - 17 A.D.) in Ars Amatoria


"Boa noite Fortuna. Sorri mais uma vez, gira a tua Roda!"

Shakespeare (dramaturgo inglês, 1564-1616) in Rei Lear