29 de maio de 2010

Do desejo


E por que haverias de querer minha alma

Na tua cama?

Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas

Obscenas, porque era assim que gostávamos.

Mas não menti gozo, prazer, lascívia

Nem omiti que a alma está além, buscando

Aquele Outro. E te repito: por que haverias

De querer minha alma na tua cama?

Jubila-te da memória de coitos e de acertos.

Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

(Hilda Hilst)

27 de maio de 2010

Do amor




Quando o amor o chamar
Segui-o

Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados
E quando ele vos envolver com suas asas


Cedei-lhe
Embora a espada oculta na sua plumagem possa feri-vos
E quando ele vos falar


Acreditai nele
Embora a sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim
Pois da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica
E da mesma forma que contribui para o vosso crescimento
Trabalha para vossa poda


E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol
Assim também desce até vossas raízes e a sacode no seu apego à terra
Como feixes de trigo ele vos aperta junto ao seu coração
Ele vos debulha para expor a vossa nudez
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas

Ele vos mói até extrema brancura
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis
Então ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino


Todas essas coisas o amor operará em vos para que conheçais os segredos de vossos corações
E com esse conhecimento vos convertais no pão místico do banquete divino
Todavia se no vosso temor procurardes somente a paz do amor, o gozo do amor
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez, abandonásseis a ira do amor
Para entrar num mundo sem estações onde rireis, mas não todos os vossos risos
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas


O amor nada dá, se não de si próprio
E nada recebe, se não de si próprio
O amor não possui nem se deixa possuir
Pois o amor basta-se a si mesmo


Quando um de vós ama, que não diga 'Deus está no meu coração'
Mas que diga antes 'Eu estou no coração de Deus'
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor pois o amor se vos achar dignos determinará ele próprio vosso curso
O amor não tem outro desejo se não o de atingir a sua plenitude
Se contudo amardes e precisardes ter desejos
Sejam estes os vossos desejos
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite

De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria
De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor
De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor
De voltardes pra casa à noite com gratidão
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado
E nos lábios uma canção de bem-aventurança...


(Gibran)

24 de maio de 2010

Trinta anos no vale de exílios da sombra...


...tua voz se eleva cintilante, responde-me
com seus cristais clarificados, - e sem nenhum rumor.


Fica repleta a noite e meus ouvidos te reconhecem:
os ouvidos que nem estão no meu corpo
nem na memória, mas só no ausente universo do sono.


Eu te digo: “Espera-me! Desculpa-me!
Vou chegar muito tarde!” E não sei se falo
com palavras ou símbolos, nas dimensões submersas do horizonte.


E eu te digo: “Atira-me a chave!” E deploro-me –
e de muito longe vejo a chave que me atiras,
e que receberei como álibi do sobrenatural.


Assim, eu sou agora, ainda que a mesma, também outra,
em mundo paralelo, com a chave da porta invisível,
e o som da tua voz é uma arvore clara que não se ouve,
numa atmosfera absurda –
como se nos fossemos encontrar, um dia, e continuássemos.

(Cecília Meireles)

21 de maio de 2010

Geminiana


Gêmeos é o signo cujo simbolismo expressa a dualidade, a troca e a complementação dos opostos. Simboliza a reunião dos extremos, ligando-os numa só linguagem, numa só realidade, numa única comunicação. A reunião de duas naturezas antagônicas e contraditórias, refletindo uma na outra. É a compreensão de que a superação da dualidade, o equilíbrio dos opostos, vem através de um grande abraço, de uma grande integração. Toda multiplicidade se reduz à unidade em seu último fundamento. Gêmeos é a aceitação dos dois princípios opostos. O símbolo de Gêmeos proporciona uma compreensão da junção das realidades contrárias no universo. Estabelece uma compreensão e uma relação entre o que está longe e o que está perto. Representa a ligação e incorporação através da comunicação e das trocas.

O primeiro signo da trilogia do Ar, possui a inteligência das palavras, dos significados, da comunicação. É dele o dom de falar para o outro da maneira mais compreensível possível, explorando a linguagem em todas as suas formas: gestual, escrita e falada. Os geminianos têm a clareza de saber perguntar, buscar informações, colocar em palavras aquilo que para muitos só pode ser sentido, tocado ou imaginado.

A consciência em Gêmeos possui a inigualável capacidade de ver as coisas com sensibilidade e abordar um assunto sobre vários ângulos, sabendo que nenhum deles é definitivo. Além disto, tem ainda o dom de sugerir idéias e tirar as pessoas da prisão de uma situação ou um ponto de vista.
A inteligência geminiana privilegia a versatilidade e dá às pessoas que nasceram sob este signo a convicção de saber que podem fazer várias coisas ao mesmo tempo, por mais diversificadas que possam parecer. O Sol em Gêmeos proporciona a facilidade de lidar com a duplicidade. Para os geminianos, é possível duplicar a si mesmo e também as experiências vividas, sem que com isto haja qualquer confusão.

By Morgana

17 de maio de 2010

Ronnie James Dio


Sem muito a dizer...
Morre em 16 de maio de 2010, aos 67 anos, Ronald Podavona. Mais conhecido como Ronnie James Dio, uma das maiores vozes do Metal.
Ele foi vocalista de duas grandes bandas, o RAINBOW e o BLACK SABBATH e faleceu às 7:45 h da manhã nos EUA de câncer de estômago.
Apelidado de "homem das amídalas de aço", pela potência de sua voz, foi uma forte influência para inúmeros fãs e cantores de Rock/Hard/Heavy Metal por várias gerações.
Quem conhece o seu trabalho, carisma... Quem já ouviu a melodia e a potência do seu canto sabe a falta que este mito já está fazendo.

Salve Dio!!!!





Yell to the wind, though the wind won't help you fly at all
your back's to the wall
Then chase the sun, and it tears away and it breaks you as you run,
you run, you run!

Behind the smile, there's danger and a promise to be told:
you'll never get old
Life's fantasy - to be locked away and still to think you're free
you're free, we're free!

[Chorus]
So live for today
Tomorrow never comes
Die Young

Die young, die young
can't you see the writing on the wall?
Die young, gonna die young
someone stopped the pain

Yell to the wind, though the wind won't help you fly at all
your back's to the wall
Then chase the sun, and it tears away and it breaks you as you run,
you run, you run!

So live for today
Tomorrow never comes

Die young, young!
Die young, die young!
Die young, die young, young!
Die young, die young, die young, die young, die young!!

13 de maio de 2010

Demora-te sobre a minha hora


Antes de me tomar, demora.
Que tu me percorras cuidadosa, etérea
Que eu te conheça lícita, terrena
Duas fortes mulheres
Na sua dura hora.
Que me tomes sem pena
Mas voluptuosa, eterna
Como as fêmeas da Terra.
E a ti, te conhecendo
Que eu me faça carne
E posse
Como fazem os homens.


(Hilda Hilst)

10 de maio de 2010

O Anjo caído


Era um anjo de Deus

Que se perdera dos Céus
E terra a terra voava.
A seta que lhe acertava
Partira de arco traidor,
Porque as penas que levava
Não eram penas de amor.

O anjo caiu ferido,
E se viu aos pés rendido
Do tirano caçador.
De asa morta e sem 'splendor
O triste, peregrinando
Por estes vales de dor,
Andou gemendo e chorando.

Vi-o eu, o anjo dos Céus,
O abandonado de Deus,
Vi-o, nessa tropelia
Que o mundo chama alegria,
Vi-o a taça do prazer
Pôr ao lábio que tremia...
E só lágrimas beber.

Ninguém mais na Terra o via,
Era eu só que o conhecia...
Eu que já não posso amar!
Quem nos havia de salvar?
Eu, que numa sepultura
Me fora viva enterrar?
Loucura! Ai, cega loucura!

Mas entre os anjos dos Céus
Faltava um anjo ao seu Deus;
E remi-lo e resgatá-lo
Daquela infâmia salvá-lo
Só a força de amor podia.
Quem desse amor há-de amá-lo,
Se ninguém o conhecia?

Eu só. E eu morta, eu descrida,
Eu tive o arrojo atrevido
De amar um anjo sem luz.
Cravei-a eu nessa cruz
Minha alma que renascia,
Que toda em sua alma pus.
E o meu ser se dividia,

Porque ela outra alma não tinha,
Outra alma senão a minha...
Tarde, ai!, tarde a conheci,
Porque eu o meu ser perdi,
E ela à vida não volveu...
Mas da morte que eu morri
Também a infeliz morreu.

(Almeida Garret)

5 de maio de 2010

Tateio...




...A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.
Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.
Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio.
Passeia sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.

(Hilda Hilst)

3 de maio de 2010

Artista



Sou artista, pintor...
Desenho imagens...
Nenhuma se compara ao teu fulgor.
Sei criar mil fantasmas, dar-lhes vida.
Mas se vejo teu rosto, dou-lhes fogo!
Serves teu vinho ao ébrio na taberna e abates toda casa que construo
Nossa alma em ti se dissolve, água na água. Vinho no vinho...
Sinto teu perfume...
Cada gota de meu sangue te implora: 'Faz-me teu par, dá-me tua cor'
Sofre minha alma na casa de argila
E entra amado, se não hei de partir...



(Rumi)

(Imagem: O Beijo - Gustavo Klimt)

2 de maio de 2010

Equilibrium




A Razão e a Paixão


E a sacerdotisa adiantou-se novamente e disse: "Fala-nos da razão e da paixão". E ele respondeu, dizendo:

Vossa alma é freqüentemente um campo de batalha onde vossa razão e vosso juízo combatem vossa paixão e vosso apetite. Pudesse eu ser o pacificador de vossa alma, transformando a discórdia e a rivalidade entre vossos elementos em união e harmonia. Mas como poderei fazê-lo, a menos que vós mesmos sejais também pacificadores, mais ainda, enamorados de todos os vossos elementos?
Vossa razão e vossa paixão são o leme e as velas de vossa alma navegante. Se vossas velas ou vosso leme se quebram, só podereis derivar ou permanecer imóveis no meio do mar. Pois a razão, reinando sozinha, restringe todo impulso; e a paixão, deixada a si, é um fogo que arde até sua própria destruição.
Que vossa alma eleve, portanto, vossa razão à altura de vossa paixão, para que ela possa cantar, E que dirija vossa paixão a par com vossa razão, para que ela possa viver numa ressurreição cotidiana e, como a fênix, renascer das próprias cinzas.
Gostaria que tratásseis vosso juízo e vosso apetite como trataríeis dois hóspedes amados em vossa casa. Certamente não honraríeis um hóspede mais do que o outro; pois quem procura tratar melhor um dos dois, perde o amor e a confiança de ambos.”

(Gibran)


“Necesidad y Libertad, tales son las dos grandes Leyes de la Vida; y estas dos Leyes hacen sólo una, pues son mutuamente indispensables.
La necesidad sin libertad sería tan nefasta como la libertad privada de su freno necesario. El Derecho sin el Deber es la locura. El Deber sin el Derecho es la Esclavitud.”
(Eliphas Levi Zahed)

1 de maio de 2010

A Sacerdotisa


A Sacerdotisa é a guardiã do inconsciente. Ela está sentada na frente do fino véu do desconhecido que é tudo que nos separa de nosso jardim interno. Guarda em seu próprio interior os segredos desse reino e nos oferece o silencioso convite: "Seja tranqüilo e saberá que sou Deus".

Esta carta é o desconhecido misterioso que a mulher freqüentemente representa, especialmente nas culturas que se focam no tangível e conhecido.

Nas leituras, esta carta propõe o desafio de ir ao fundo – a olhar através do óbvio, da superfície, para ver o que está escuro e escondido. Ela também te convida a trazer à tona a vastidão do seu potencial e lembrar as ilimitadas possibilidades escondidas dentro de você. A Sacerdotisa pode representar um tempo de espera e inatividade. Não é sempre necessário agir para atingir seus objetivos. Algumas vezes eles podem ser realizados através da imobilidade que nos dá uma chance de florescer por dentro o tempo todo.

A Sacerdotisa é receptiva, intuitiva, aberta às boas influências do Universo. Seu papel, na verdade é ocultar algo. Sua imagem é análoga, semelhante à de uma mulher grávida que espera pacientemente sem poder acelerar o curso da sua gestação. Seu conhecimento é mais intuitivo que racional. Ela não sabe, sente.

Sua percepção das coisas se dá de um modo que nem todas as pessoas podem captar.


(Texto retirado da net)