19 de maio de 2012

Da Noite



"Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.


Que mitos, meu amor, entre os lençóis:

O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.



Como cobrir-te de pássaros e plumas

E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.



Que canto há de cantar o indefinível?

O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.



Como te amar, sem nunca merecer?

Costuro o infinito sobre o peito.
E no entanto sou água fugidia e amarga.
E sou crível e antiga como aquilo que vês:
(...)
Costuro o infinito sobre o peito
Como aqueles que amam.


Que te demores, que me persigas
Como alguns perseguem as tulipas
Para prover o esquecimento de si.
Que te demores
Cobrindo-me de sumos e de tintas
Na minha noite de fomes.
Reflete-me. Sou teu destino e poente.
Dorme."



(Hilda Hilst)

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