5 de dezembro de 2009

Rubaiyat III



No céu, a mão esquerda da alvorada; eu sonho.
Na taberna, uma voz escuto na algazarra
- Despertai, meus pequenos, e enchei bem o copo
antes que seque o vinho da vida em sua jarra.


Ah! Enche o copo! De que serve repetir
que o tempo sob os nossos pés já vai fugindo?
O amanhã não nasceu e o ontem já morreu,
porque me hei-de importar, se o dia de hoje é lindo?


E ao côncavo invertido que se chama o céu,
sob o qual rastejaram o vivo e o que morreu,
não ergas tuas mãos, pedinte. Ele é impotente
no seu girar, tal qual o somos tu ou eu.


O dedo que se move escreve, e, tendo escrito,
se vai. E toda a argúcia e piedade, entretanto,
não o trarão de volta a mudar meia linha,
nem as palavras podes apagar com o pranto.


E se o vinho que bebes, o lábio que oprimes
findam nesse nada que a tudo dá sumiço,
imagina, então, que és; não podes ser senão
o que hás-de ser - nada! Não serás menos que isso.


Façamos o que inda há por fazer
antes que também nós ao pó vamos enfim.
O pó vai para o pó, sob o pó vai jazer
sem vinho, sem canções e sem cantor... sem fim.


É tudo um tabuleiro de noites e dias;
os homens são peças, e o fado temerário
com elas joga, e move, e toma, e dá o mate,
e uma a uma as recolhe, e vai guardar no armário.

Façamos mais do que inda há por fazer

antes que também nós ao pó vamos enfim.
O pó vai para o pó, sob o pó vai jazer
sem vinho, sem canções e sem cantor... sem fim.


(Omar Khayyam)

Um comentário:

Anônimo disse...

Olha eu aqui novamente!
Lindo poema. Me fez refletir um pouco sobre a vida.
"Façamos mais do que inda há por fazer", isso me fez pensar na correria da vida atual e que por causa disto quantas vezes deixamos de valorizar as pessoas que realmente são importantes na nossa vida, quantas vezes deixamos de ter bons momentos por causa do cotidiano e que na maioria das vezes serão oportunidades únicas que nunca mais teremos.
Bjo do seu fã anônimo menina sensual