27 de novembro de 2009

Não me acordem...



Não me acordem
Deixem-me sonhar que é possível
Realizar o impossível!
Restaurar a desordem.

Deixem-me sofrer
Com o que digo necessário
Construir um santuário
Chamar-lhe edificação, polimento
Guardar tudo em esquecimento

Deixem-me acreditar
Que não será complicado
Que não será sempre…
Inesperadamente ausente
Ai que esperança em tê-lo presente

Deixem-me imaginar
Torna-lo realizável
Lutar
Sim, sou incansável!

Eu sei que apenas a meus olhos
É lindo
Deixem-me cega
Sorrindo.

Mas não deixem que me matem
Que desatem, que me explorem
Para uma qualquer vontade

Que me encham de maldade
Arderia tudo em mim
Seria simplesmente o meu fim…

(Catarina Portela)

"Os que sonham de dia são conscientes de muitas coisas que escapam aos que sonham apenas à noite."
(Edgar Allan Poe)

23 de novembro de 2009

O canto do anjo vermelho



Um blues esfarinha os ossos da saudade


Apenas o temor me abriga nessa noite sem esperança

Onde estão as mulheres verdes?
Onde estão as mulheres algas?
Onde está o gibão anti-radioativo para desarmar a cabeça-dinamite do século?

A estrada tem fome, talhos e atalhos para os príncipes da paranóia
São dez e cinqüenta e quatro, posso morrer confortada pela ausência de olhares

Estou em casa, meu sono está morto
E as mentiras soterradas em minhas unhas
Um blues é um atalho para a sobrevivência
ou esquecimento

O amor é a violência do assassinato
O desespero é o sangue do misticismo
Assim como a noite é a estrela da fuga
E o escuro um daimon arcaico

Há dias que estou em transe
Aspirando o álcool prostituído dos postos de combustível
dirigindo meus sonhos no interior da valise das caveiras
e ruminando essas digitais impressões minerais

Há anos que estou amendrontada
E nenhum raio me guia para nenhum território pacífico
Ainda posso suicidar este corpo que não me pertence
Mas prometi ao deus dos espelhos que não o faria

Descobri esta arma enterrada nas cinzas de meus pulmões
Morrerei como uma coruja que antes do parto tratou de profetizar sua própria morte
Ou como galo que pela manhã canta o velho sol esquecido

Em minhas veias nenhuma morfina foi encontrada
nenhum metal precioso ou equivalente
Em minhas veias foi encontrada a ira e a herança
a dor e a nudez de um anjo

O mar se curva perante a aurora
no altar de meus pesadelos
só há agora pecados e automóveis
e a poeira das vestes desfiguradas

Ruge a sombra, ruge a fera
ruge o sino assombroso da catedral
Nunca serei fuzilada
a menos que o crepúsculo se instale no coração do meio dia

Meus braços foram criados para empunhar pás de areia
para enterrar entes queridos
E se meu hálito recende à cachaça
isso é melhor que não ter hálito nenhum

Espectros de caleidoscópios girando entre ressentidas estrelas
qual os ponteiros de um relógio fúnebre
ou de um mirar vazio no horizonte
Assim é a vida: sina de telefone que toca insistentemente sem que ninguém atenda

Nos andes o frio me aguarda
Sóbrio e sombrio como uma língua desconhecida
Em busca de um beijo ou da garganta aberta do inimigo
Somos todos a suavidade de um deus que dança
Escatológicos signos de uma relva que amanhece
antes mesmo de nascer.

(Nuno Gonçalves)

20 de novembro de 2009

Sintonia...

"...É a identidade ou harmonia vibratória, isto é, o grau de semelhança das emissões ou radiações mentais de duas pessoas, com almas semelhantes, próximas fisicamente ou não, e de grande afinidade."

Uma ligação e ninguém responde... Normal... Acontece...
Mas eu senti... Eu sei que era você!

"Alô..." - Sem resposta
"Alô..." - Novamente sem resposta
Silêncio

Eu hesitei durante este momento, mas eu respondi! Tinha que falar!

"Fale meu anjo..."
"Desligou imediatamente!"

Só a uma pessoa eu me refiro assim e desta vez não foi como antes, também não voltou mais a ligar...
Essa atitude foi a certeza que eu tive...
...De que foi você... Meu anjo
Mas, por quê?
Por que não responde?

São manifestações, sinais de uma sintonia.
Uma conexão forte que vai muito além da matéria...
...E que ainda não terminou.

18 de novembro de 2009

Faith Divides Us - Death Unites Us





Este é um clip do grande PARADISE LOST que vi na casa de meu querido amigo Iuri Jones, inspirado na história do monstro austríaco Josef Fritzl que aprisionou e violentou por 24 anos em um porão sem janelas a sua filha Elizabeth Fritzl, na cidade de Amstetten na Áustria. Das relações incestuosas nasceram sete filhos, um dos quais morreu logo após nascer, tendo Josef incinerado o seu corpo jogando-o no sistema de calefação da casa.
Josef enganou os vizinhos, a polícia e a própria esposa ao sequestrar e encarcerar a própria filha de 18 anos em 1984, alegando que ela tinha sido levada por uma seita e apresentando uma carta em que ele obrigou Elizabeth a escrever pedindo aos pais que parassem de procura-la.
Josef praticava abuso sexual da filha desde 1977 quando a mesma tinha apenas 11 anos de idade.
Réu confesso, Josef declarou ainda: "Eu sabia que Elisabeth não queria que eu fizesse o que estava fazendo com ela. Sabia que estava machucando-a. Aquilo era como um vício. Na verdade, eu desejava ter filhos com ela."

O caso foi descoberto em 2008, calcula-se que ao longo de 24 anos de cárcere ele tenha estuprado Elizabeth mais de três mil vezes.

O mais interessante, é que percebe-se todo o cuidado da banda na abordagem deste assunto no clip. É um vídeo forte, emocionante, porém livre de cenas de violência e qualquer outro tipo de recurso que venha a expor a imagem das vítimas desta história. Na minha opinião é o melhor vídeo de 2009.
Valeu meu amigo-irmão Iuri por ter me apresentando esta perfeita e autêntica obra de arte.

Metal forever!
Forever Underground!

By Morgana

Letra da música

Refrain from the way we were
Slain the invincible
Changed are the the ways of man
Fortitude to face the path

[Chorus:]
Vanquish the pain don't want to see it fail
Faith divides us death unites us
Vanquish the pain don't want to seek despair
Faith divides us death unites us

Tears for a hopeless case
Outside is still so vague
Frayed the landscapes of old
Cleared the indelible

[Chorus]
Vanquish the pain don't want to see it fail
Faith divides us death unites us
Vanquish the pain don't want to seek despair
Faith divides us death unites us

Cannot sleep through darkened skies
Cannot dream until it's over
Cannot sleep through darkened skies
Cannot dream until it's over


[Chorus]
Vanquish the pain don't want to see it fail
Faith divides us death unites us
Vanquish the pain don't want to seek despair
Faith divides us death unites us

14 de novembro de 2009

O sonho


Quem contar

Um sonho que sonhou
Não conta tudo o que encontrou
Contar um sonho é proibido

Eu sonhei
Um sonho com amor
E uma janela e uma flor
Uma fonte de água e o meu amigo
E não havia mais nada...
Só nós, a luz, e mais nada...
Ali morou o amor

amor,

Amor que trago em segredo
Num sonho que não vou contar
E cada dia é mais sentido

Amor,
Eu tenho amor bem escondido
Num sonho que não sei contar
E guardarei sempre comigo

(Madredeus)

11 de novembro de 2009

Não me deixe ir embora


Não me deixe ir embora


Deixarei meus sonhos espalhados no chão


Como lindas quimeras... De uma doce ilusão.


Apenas se aproxime e me abrace forte...


Não me deixe ir embora, não.



(By Morgana)

10 de novembro de 2009

Ainda sangra...



"Um amor igual a esse
onde se vai achar
que quando parte vai pra nunca mais
mas sempre volta vento arrasador"

(Leila Pinheiro)

Saudade... Saudade... Pesa demais no coração...

8 de novembro de 2009

La Loba - Parte 4



La Loba
faz um paralelo com os mitos universais nos quais os mortos são ressuscitados.
O canto sobre os ossos é a nossa técnica de meditação enquanto mulheres, a evocação de aspectos mortos e desagregados de nós mesmas, a evocação de aspectos mortos e desagregados da própria vida. Aquele que recria a partir do que está morto é sempre um arquétipo de duas faces. A Mãe Criadora é sempre também a Mãe Morte, e vice-versa. Em virtude dessa natureza dual, ou dessa duplicidade de função, a grande tarefa diante de nós consiste em aprender a compreender à nossa volta e dentro de nós exatamente o que deve viver e o que deve morrer. Nossa tarefa reside em captar a situação temporal de cada um: permitir a morte àquilo que deve morrer, e a vida ao que deve viver.
É esse o conhecimento adquirido quando nos aproximamos da Mulher Selvagem. Quando La Loba canta, ela está cantando a partir do saber contido nos ovários, um conhecimento que vem das profundezas do corpo, do fundo da mente, do fundo da alma. Os símbolos da semente e dos ossos são muito semelhantes.
Dispor da semente significa ter o acesso à vida. Conhecer os ciclos da semente significa dançar com a vida, dançar com a morte, dançar de volta à vida. A natureza da Mulher Selvagem nas mulheres é a da mãe da vida e da morte em sua forma mais antiga.
Essa velha La Loba é a quintessência da mulher de dois milhões de anos. Ela é a Mulher Selvagem original que vive debaixo da terra e, no entanto, sobre o seu solo. Ela vive dentro de nós e nos transcende; nós somos cercadas por ela. Os desertos, os bosques e a terra debaixo das nossas casas têm pelo menos dois milhões de anos.
A velha, a Mulher Selvagem, é La Voz Mitológica. Ela é a voz mística que conhece o passado e nossa história ancestral e mantém esse conhecimento registrado nas histórias. Se uma mulher conseguir manter esse dom de ser velha quando jovem e jovem quando velha, ela sempre saberá o que vem depois. Se ela tiver perdido esse dom, ainda poderá recuperá-lo com algum exercício psíquico deliberado.
Os ossos de lobo nessa história representam o aspecto indestrutível do Self selvagem, a natureza instintiva, a criatura dedicada à liberdade e ao que permanece incólume, que jamais aceitará os rigores e as exigências de uma civilização morta ou excessivamente civilizadora.
Esse Self/mulher-lobo deve ter liberdade para se movimentar, para falar, para ter raiva e para criar. Esse Self é duradouro, possui boa capacidade de recuperação e grande intuição.
É um Self formado nas questões espirituais do nascimento e da morte.
Portanto, em termos imagísticos, quer você seja um lobo negro, um cinzento do norte, um vermelho do sul, quer seja um branco do Ártico, você é a perfeita criatura instintiva.

(Texto extraído do livro: Mulheres que correm com os lobos - Clarissa Pinkola Estes)

7 de novembro de 2009

La Loba - Parte 3


Essa velha loba está entre os universos da racionalidade e do mito. Ela é a articulação com a qual esses dois mundos giram. Esse espaço entre os mundos é aquele lugar inexplicável que todas reconhecemos uma vez que passamos por ele, porém suas nuanças se esvaem e têm a forma alterada se quisermos defini-las, a não ser quando recorremos à poesia, à música, à dança... ou às histórias.
Existem especulações acerca de o sistema imunológico do corpo humano achar-se enraizado nesse misterioso terreno psíquico, bem como os impulsos e imagens místicas e arquetípicas, incluindo-se nossa fome de Deus, nosso anseio pelos mistérios e todos os instintos sagrados e mundanos. Alguns sugeririam que a memória da humanidade, a raiz da luz, a espiral das trevas também se encontram ali.
Não se trata de um vazio, mas do lugar dos Seres da Névoa, onde as coisas são e ainda não são, onde as sombras têm substância e a substância é diáfana.
Uma coisa a respeito desse espaço é certa: ele é antigo... mais velho do que os oceanos. Como La Loba, ele não tem idade; é atemporal. O arquétipo da Mulher Selvagem dá sustentação a essa camada e emana da psique instintiva. Embora ela possa assumir muitos disfarces nos nossos sonhos e experiências criativas, ela não pertence à camada da mãe, da virgem, da mulher medial, nem da criança interior. Ela não é a rainha, a amazona, a amada, a vidente. Ela é só o que é. Chamem-na de La Que Sabé, Aquela Que Sabe; chamem-na de Mulher Selvagem, de La Loba, chamem-na pelos seus nomes nobres ou pelos seus nomes humildes; chamem-na pelos seus nomes mais novos ou mais antigos; ela continua sendo apenas o que é.
A Mulher Selvagem como arquétipo é uma força inimitável e inefável que traz para a humanidade um abundante repertório de idéias, imagens e particularidades. O arquétipo existe por toda a parte e, no entanto, não é visível no sentido comum da palavra. O que pode ser visto dele no escuro não é visível à luz do dia.
Encontramos comprovações residuais dos arquétipos nas imagens e símbolos presentes nas histórias, na literatura, na poesia, na pintura e na religião. Seu brilho, sua voz e seu perfume parecem ter a intenção de fazer com que nos alcemos da contemplação de nossos próprios rabos para viagens maiores em companhia das estrelas.
No espaço de La Loba, como diz o poeta Tony Moffeit, o corpo físico é "um animal luminoso", e o seu sistema imunológico parece ser fortalecido ou debilitado pelo pensamento consciente. No lugar de La Loba, os espíritos manifestam-se como personagens e La Voz Mitológica da psique profunda fala como poeta e oráculo. Tudo o que tiver valor psíquico, mesmo depois de morto, pode ser ressuscitado.

(Texto extraído do livro: Mulheres que correm com os lobos - Clarissa Pinkola Estes)

6 de novembro de 2009

La Loba - Parte 2


La Loba indica o que devemos procurar — a indestrutível força da vida, os ossos.
Na história, La Loba canta sobre os ossos que reuniu. Cantar significa usar a voz da alma. Significa sussurrar a verdade do poder e da necessidade de cada um, soprar alma sobre aquilo que está doente ou precisando de restauração. Isso se realiza por meio de um mergulho no ponto mais profundo do amor e do sentimento, até que nosso desejo de vínculo com o Self selvagem transborde, e em seguida com a expressão da nossa alma a partir desse estado de espírito. Isso é cantar sobre os ossos.
Essa Mulher Selvagem La Loba, que vive no deserto, foi chamada por muitos nomes e atravessa todas as nações pelos séculos afora. Seguem-se alguns dos seus antigos nomes: A Mãe dos Dias é a deusa-mãe-criadora de todos os seres e de todas as coisas, incluindo-se o céu e a terra. Mãe Nyx exerce seu domínio sobre tudo o que for da lama e das trevas. Durga controla os céus, os ventos e os pensamentos dos seres humanos dos quais se espalha toda a realidade. Coatlique dá a vida ao universo incipiente, que é maroto e difícil de controlar, mas, como uma mãe loba, ela morde a orelha do filhote para contê-lo. Hécata, a velha vidente que "conhece seu povo" e traz em si o cheiro de húmus e o sopro divino. E muitas, muitas outras. Essas são as imagens do que e de quem vive aos pés dos morros, longe no deserto, lá nas profundezas.
La Loba, a velha. Aquela Que Sabe, está dentro de nós. Ela viceja na mais profunda alma-psique das mulheres, a antiga e vital Mulher Selvagem. A história de La Loba descreve sua casa como aquele lugar no tempo no qual o espírito das mulheres e o espírito dos lobos se encontram — o lugar onde a mente e os instintos se misturam, onde a vida profunda da mulher embasa sua vida rotineira. É o ponto onde o Eu e o Tu se beijam, o lugar onde as mulheres correm com os lobos.

(Trecho do livro: Mulheres que correm com os lobos - Clarissa Pinkola Estes)

5 de novembro de 2009

La Loba, o Mito - Parte 1


Existe uma velha que vive num lugar oculto de que todos sabem, mas que poucos já viram. Como nos contos de fadas da Europa oriental, ela parece esperar que cheguem até ali pessoas que se perderam, que estão vagueando ou à procura de algo.
Ela é circunspecta, quase sempre cabeluda e invariavelmente gorda, e demonstra especialmente querer evitar a maioria das pessoas. Ela sabe crocitar e cacarejar, apresentando geralmente mais sons animais do que humanos.
Ela é conhecida por muitos nomes: La Huesera, a Mulher dos Ossos; La Trapera, a Trapeira; e La Loba, a Mulher-lobo.
O único trabalho de La Loba é o de recolher ossos. Sabe-se que ela recolhe e conserva especialmente o que corre o risco de se perder para o mundo. Sua caverna é cheia dos ossos de todos os tipos de criaturas do deserto: o veado, a cascavel, o corvo.
Dizem, porém, que sua especialidade reside nos lobos.
Ela se arrasta sorrateira e esquadrinha as montañas e os arroyos, leitos secos de rios, à procura de ossos de lobos e, quando consegue reunir um esqueleto inteiro, quando o último osso está no lugar e a bela escultura branca da criatura está disposta à sua frente, ela senta junto ao fogo e pensa na canção que irá cantar.
Quando se decide, ela se levanta e aproxima-se da criatura, ergue seus braços sobre o esqueleto e começa a cantar. É aí que os ossos das costelas e das pernas do lobo começam a se forrar de carne, e que a criatura começa a se cobrir de pêlos. La
Loba canta um pouco mais, e uma proporção maior da criatura ganha vida. Seu rabo forma uma curva para cima, forte e desgrenhado.
La Loba canta mais, e a criatura-lobo começa a respirar.
E La Loba ainda canta, com tanta intensidade que o chão do deserto estremece, e enquanto canta, o lobo abre os olhos, dá um salto e sai correndo pelo desfiladeiro.
Em algum ponto da corrida, quer pela velocidade, por atravessar um rio respingando água, quer pela incidência de um raio de sol ou de luar sobre seu flanco, o lobo de repente é transformado numa mulher que ri e corre livre na direção do horizonte.
Por isso, diz-se que, se você estiver perambulando pelo deserto, por volta dopôr-do-sol, e quem sabe esteja um pouco perdido, cansado, sem dúvida você tem sorte, porque La Loba pode simpatizar com você e lhe ensinar algo — algo da alma.

(Texto extraído do livro: Mulheres que correm com os lobos - Clarissa Pinkola Estes)