... porque as coisas
são mesmo assim, talvez por certa magia, predestinações, sinais ou
simplesmente acaso, quem saberá, ou ainda por ser natural que assim
fosse, e menos que natural, inevitável, fatalidade, trágicos
encantos - enfim, houve um dia, marco, em que o tocaram de leve no
ombro.
Ele olhou para o lado. Ao lado havia Outra Pessoa. A Outra
Pessoa olhava-o com cuidadosos olhos castanhos. Os cuidadosos olhos
castanhos eram mornos, levemente preocupados, um pouco expectantes.
As transformações tinham se tornado tão aceleradas que, no
primeiro momento, não soube dizer se a Outra Pessoa via a ele ou a
Ela, se se dirigia à moldura, à casca, ao cristal ou ao desenho, ao
corpo original, às gotas de sangue. Isso num primeiro momento. Num
segundo, teve certeza absoluta que se tinha desinvisibilizado. A
Outra Pessoa olhava para uma coisa que não era uma coisa, era ele
mesmo. Ele mesmo olhava para uma coisa que não era uma coisa, era
Outra Pessoa. O coração dele batia e batia, cheio de sangue.
Pousada sobre seu ombro, a mão da Outra Pessoa tinha veias cheias de
sangue, latejando suaves.
Alguma coisa explodiu, partida em cacos.
A partir de então, tudo ficou ainda mais complicado. E mais real.
Caio F. Abreu
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